Artes / Poemas · Junho 16, 2023

Apontamento sobre a noite e um desenho, de Maria Andresen

Nas comunicações galácticas que há agora
vislumbro-te, aceno-te, respondes um pouco
depois ambos nos calamos, emudecemos face ao silêncio dos espaços

das esquinas, ao risco adivinhado em tão antigas imagens, como se a noite nos
dissesse não avances, vê-me só como então

Aceno-te na obscuridade

Era noite na cidade e no brilho duro da tua pele escura, na tua demora demorava-me na tua demora

Agora os nossos olhares serão opacos
Como Isabelle Costello fizemos um pacto poético com a indiferença,
a que se vê na noite
e no olhar doce das bestas

brilho, mudez e sede
o animal elástico que se move na noite
o passo enervado da noite
o teu quedares-te à escuta

porque há um vento que levanta
restos dessa terra

e agita as linhas no silêncio e os conduz
para a noite
na sua ordem discreta

Maria Andresen