Poemas · Janeiro 20, 2022

Sem título, de Paulo José Miranda

1.
olhas fotografias antigas
tentando impedir a ruína do mundo
mas onde estavas nesse tempo de luz registado
que não aproveitaste nada

quantas pessoas morreram entretanto
sem que de ti desses conta
sendo as costas da tua própria vida
e nem uma espada de São Jorge num vaso de casa

quantas pessoas que nunca viste o suficiente
que nunca soubeste e nunca te aproximaste
livros que não leste por distracção de quem és

não olhes agora as fotografias
esfrega-as na cara e entende por fim
que já há muito não estás contigo

 

Paulo José Miranda