Artes / Poemas · Junho 16, 2023

Sem título, de Luís Vieira da Mota

Durante toda a noite atormentaram-me palavras
e sons
ruídos esquecidos que julgava extintos
por ter confiado em esperanças
que goradas sei agora.

Daí ansiar a madrugada
que trouxesse luz às minhas sombras.

Quando amanheceu
as minhas aves de todos os dias estavam quietas
nos ramos
no chão
e quem já não me visitava há muito
                      – A minha gaivota peregrina
                      que não é minha porque é livre
estava ali também                           vinda de muito longe
dizia
e trago comigo
contava
esta pomba ferida
que mostrava
com o coração em chamas
fora do peito.

Luís Vieira da Mota