Não escrevas sobre essa vontade que às vezes tens de partir para
longe, talvez em busca de ti mesma, que as crises de identidade não
ficam bem a uma mulher da tua idade. Não fales aos quatro ventos
das alterações climáticas que se abateram na tua cabeça, como se a
tua cabeça fosse o centro do mundo; as pessoas têm coisas mais sérias
com que se preocupar, e o clima do planeta é que está na ordem do
dia, não o teu. Não fales sobre o aquecimento global de regiões
inóspitas como a tua aorta ou a veia cava, ou do efeito catastrófico do
degelo das tuas regiões polares, como se o mundo se limitasse a
imitar-te as maleitas à escala universal; o egocentrismo, em questões
graves como estas, é de muito mau gosto. Não fales, sobretudo, dos
efeitos nefastos das toxinas disseminadas no teu sangue, tem mas é
vergonha e atenta na deflorestação do Amazonas, no efeito de estufa
e na poluição do ar, na extinção da vida nos oceanos, onde é que anda
a tua cabeça?