Poemas · Outubro 21, 2021

A última frequência do visível, de Francesca Cricelli

quando já não urge ser visto
quando afundamos na observação e no silêncio
e só se escuta o correr do rio subterrâneo em Bolonha
abre-se sobre o peito a violeta do dia

seus olhos amarelos
suas pétalas resistentes
pura seiva e púrpura

como a iniciação à rota da seda
como cartas que chegam
e outras que não se inscrevem à tinta

é violeta a última frequência do visível
um hematoma, um coágulo, sangue perdido sob a pele

para além da flor

só o raio ultravioleta

roça a memória lápis-lazúli

do sonho ultramarino

 

Francesca Cricelli