“Poupa as tuas mãos,” diz a minha mãe,
ao ver-me abrir a tampa apertada de um frasco —
no mesmo tom que costumava dizer-me
para não deixar os rapazes meter-se comigo, nem apalpar-me
os seios: “mantém-nos frescos
para o casamento, ” como se fossem um par
de fruta verdadeira. Eu achei ridículo
pensar que eles poderiam amachucar-se, arranhar-se,
amolecer, apodrecer, murchar. Olho agora para
os meus polegares nodosos, para o meu dedo indicador
permanentemente torto com a mesma deformidade
clássica que a dela, chamada pescoço de cisne,
como se estivesse partido, é assim que se diz.
Mesmo enquanto digito, interrogo-me por quanto tempo mais
serei capaz — cada ligamento da minha mão esquerda
a precisar de ser levantado e pressionado a ir para o lugar,
uma articulação a funcionar como o clique do mostrador de um
[relógio
quando se gira para abrir, dobrar ou desdobrar.
Tenho relutância em aceitar a ideia de que nos podemos estar a
[exceder,
que devemos dividir e moderar
as nossas energias para não esgotar alguma
capacidade necessária enquanto ainda vivos —
a definição de “necessária” necessariamente
mudando com o tempo.
A única certeza é a incerteza, pensei
que sabia, por isso ignorava tudo o que ela dissesse
“Save your hands,” my mother says,
seeing me untwist a jar’s tight cap —
just the way she used to tell me
not to let boys fool around, or feel
my breasts: “keep them fresh
for marriage,” as if they were a pair
of actual fruit. I scoffed
to think they could bruise, scuff,
soften, rot, wither. I look down now
at my knuckly thumbs, my index finger
permanently askew in the same classic
crook as hers, called a swan’s neck,
as if snapped, it’s that pronounced.
Even as I type, wondering how long
I’ll be able to — each joint in my left hand
needing to be hoisted, prodded, into place,
one knuckle like a clock’s dial clicking
as it’s turned to open, bend or unbend.
I balk at the idea that we can overuse
ourselves, must parcel out and pace
our energies so as not to run out of any
necessary component while still alive —
the definition of “necessary” necessarily
suffering change over time.
The only certainty is uncertainty, i thought
I knew, so ignored whattever she said