Traduções · Outubro 21, 2021

Artrite, de Carol Moldaw

“Poupa as tuas mãos,” diz a minha mãe,
ao ver-me abrir a tampa apertada de um frasco —

no mesmo tom que costumava dizer-me
para não deixar os rapazes meter-se comigo, nem apalpar-me

os seios: “mantém-nos frescos
para o casamento, ” como se fossem um par

de fruta verdadeira. Eu achei ridículo
pensar que eles poderiam amachucar-se, arranhar-se,

amolecer, apodrecer, murchar. Olho agora para
os meus polegares nodosos, para o meu dedo indicador

permanentemente torto com a mesma deformidade
clássica que a dela, chamada pescoço de cisne,

como se estivesse partido, é assim que se diz.
Mesmo enquanto digito, interrogo-me por quanto tempo mais

serei capaz — cada ligamento da minha mão esquerda
a precisar de ser levantado e pressionado a ir para o lugar,

uma articulação a funcionar como o clique do mostrador de um

[relógio

quando se gira para abrir, dobrar ou desdobrar.
Tenho relutância em aceitar a ideia de que nos podemos estar a

[exceder,

que devemos dividir e moderar

as nossas energias para não esgotar alguma
capacidade necessária enquanto ainda vivos —
a definição de “necessária” necessariamente
mudando com o tempo.

A única certeza é a incerteza, pensei
que sabia, por isso ignorava tudo o que ela dissesse


“Save your hands,” my mother says,
seeing me untwist a jar’s tight cap —

just the way she used to tell me
not to let boys fool around, or feel

my breasts: “keep them fresh
for marriage,” as if they were a pair

of actual fruit. I scoffed
to think they could bruise, scuff,

soften, rot, wither. I look down now
at my knuckly thumbs, my index finger

permanently askew in the same classic
crook as hers, called a swan’s neck,

as if snapped, it’s that pronounced.
Even as I type, wondering how long

I’ll be able to — each joint in my left hand
needing to be hoisted, prodded, into place,

one knuckle like a clock’s dial clicking
as it’s turned to open, bend or unbend.

I balk at the idea that we can overuse
ourselves, must parcel out and pace
our energies so as not to run out of any

necessary component while still alive —

the definition of “necessary” necessarily
suffering change over time.

The only certainty is uncertainty, i thought
I knew, so ignored whattever she said

 

Carol Moldaw
Tradução de Maria Celeste Alves