Poemas · Julho 23, 2021

Silêncio final, de Paulo Chagas

as vozes sobrevivem ao pesadelo esculpindo o espaço aberto da
noite e ocupam o que resta do mistério de ser
de ter
de pensar

sobrevivo como um animal perdido à deriva
nos caminhos desertos e transitórios da escuridão

entre espelhos turvos agonizo sem voz que me saia do peito
apertam-me laços de palavras indecifráveis que se perdem
num oceano de memórias sem sentido

a ordem natural das coisas ausentes é um devaneio casual
no fim da existência

arrumei os papéis
queimei alguns
e lancei as cinzas ao vento

sentei-me à espera do silêncio final que me conforta

Paulo Chagas