Poemas · Janeiro 17, 2022

Sem título, de João Pedro Azul

Ao jantar:

normalidade posta sobre mesa
quadrada de arestas herdadas

três seres sentados
e um vazio deixado pelos gatos

da outra metade do rectângulo
feixes de luz&som revelam-se
indiferentes aos nossos sentidos

o prato é novo (apesar
das) lascas espaço-temperamentais

visto de fora
o quadro apela à nossa simpatia

visto de fora
parece incompreensível
o cravar do garfo no peito

falso destro
misteriosamente feliz

o golpe é forte e seco
mas sangra apenas na imaginação
embora algum alívio gástrico
se faça notar
depois de cruzados
em diagonal ascendente os talheres
todos se levantam satisfeitos
e arrumam o palco

para dentro de si

 

João Pedro Azul