Artes / Poemas · Junho 16, 2023

Rembrandt, últimos autorretratos, de Luís Filipe Castro Mendes

Não deste por que se apagaram as luzes
enquanto tu falavas?
Não julgues estranho o silêncio à tua volta
e a ausência de perdão.
Chegaste à idade em que o desenho se dilui
e as cores se fazem menos nítidas.
A noite não se distingue mais do dia
e o teu corpo não responde por ti.
Nunca nos poderás dizer o que soubeste

Entras na manhã só com a tua memória.
Não foram estas nuvens que passaram devagar pela tua infância
e nem o coração das coisas sabes já reconhecer.
Olhas para a criança ao pé de ti
e percebes de quem são todas as manhãs que não conheces.

Luís Filipe Castro Mendes