Opinião / Recensão · Junho 2, 2021

Recensão. Carlos Fernandes

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O sol, logo em nascendo, vê primeiro, de Carlos André

Com data de edição de Dezembro de 2017, Carlos André (ex-Governador Civil do Distrito de Leiria), soma mais um livro de poesia aos dois que já publicara (Telas, 2001, e O Prisma de Newton, 2015), agora com o título “…o sol, logo em nascendo, vê primeiro”. Com uma particularidade: são poemas e fotografias. Carlos André fez do Oriente, e de Macau em particular, a sua morada de 2013 a 2018, enquanto Professor Convidado do Instituto Politécnico de Macau, onde dirigiu o Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa. «Percorreu a China de Sul a Norte e de Este a Oeste ao serviço da língua portuguesa» e terá sido nessas viagens que tirou a meia centena de fotografias (mais uma e a da capa) com que ilustrou os seus 41 poemas. É uma edição de Livros do Oriente, de Macau, e tem 110 páginas.

Este é um tipo de escrita que funciona bem com a fotografia, não se sabendo se foram as fotos que suscitaram os poemas ou o contrário, mas é indiscutível que o jogo ecfrásico faz ressaltar o equilíbrio entre a expressão plástica das imagens e o lirismo das palavras, numa espécie de eco entre as formas de arte eleitas. Num poema com o título “As ruínas de São Paulo”, ilustrado com a foto da fachada do que resta da Igreja da Madre de Deus (Macau), pode ler-se: «Nos nichos, velhos santos vão velando,/ quais deuses, quais profetas, querubins,/ ou rastos que ficaram de uma trama// ou trilhos da fortuna em voz de chama,/ lá dentro já não cantam mandarins,/ só canta, com voz rouca, o tempo quando.» E num outro, intitulado “Rio Li”, justamente ilustrado com uma foto do rio Li pejado de barcos, lê-se: «Nas mil proas que sulcam o longo Li,/ vê lonjura, vê traços do Império,/ vê a voz da distância ao pé de ti,// vê a História em seu porte nobre e sério;/ no sem rumo que o Fado mostra ali,/ vê a China: navega em seu mistério.» Um verdadeiro álbum fotopoético.

Recensão: Carlos Fernandes