Artes / Poemas / Uncategorized · Junho 1, 2021

Poema 1 [a insónia das asas], de Andreia Marques

04São quase sempre duas da manhã
quando os pássaros batem com a ponta
das asas no meu esófago.
Habitualmente dormem.
Ou somem-se
para dentro dos ninhos das toupeiras.
Mas a esta hora tardia, acordam.
Sinto-lhes as patinhas pequenas.
São mais de nove. Menos de treze.
Sinto-lhes as unhas afiadas
a roçarem-me a traqueia.
Sangram-me os pulmões.
Banham-se no rubor deles.
Oiço-lhes o restolho aflito,
nos ninhos vazios
dos morcegos partidos.
Bicam-me as noites,
os pássaros.
Rasgam-me a pele, as noites.
Está escuro nas ruas de dentro,
e os gatos não me comem os pássaros.

Andreia Marques