Traduções · Junho 17, 2021

Os meus silêncios, de Myriam Soufy

Não insultes os meus silêncios
Ouve o rumor das minhas sílabas
Ajusta-as
Deforma-as
É em redor dos neologismos que nascem as mais belas
declarações
Apanha em vôo essas dúvidas que me assombram
Curva as letras, as iniciais
Pronuncia para mim o “H” mudo
Ele tem tantas coisas a dizer há tanto tempo…
Mas não insultes os meus silêncios
As ressonâncias causam dores de cabeça
Um eco embate nas minhas têmporas quando as palavras
atordoam
E então penso em borboletas
No esboço de uma pomba
Nas ranhuras de uma casca
No idioma dos ventos
Sorvo um chá com os aromas de um outro lugar que me escapa
No vapor galopante vejo enciclias que bamboleiam e sorrio
Não insultes os meus silêncios
Deixa-me refugiar nas minhas peregrinações
Sonhar com as cores do mundo
Nesta cabana à beira mar
Deixa de agitar esta realidade que não é a minha
Bebe-a se isso te canta
Ergue a bandeira dos bem pensantes
Exibe as tuas medalhas de bom comportamento
Engraxa os teus sapatos
Mas não insultes os meus silêncios
Ou eu grito


Mes silences

N’insultez pas mes silences
Écoutez la rumeur de mes syllabes
Ajustez-les
Déformez- les
C’est au bord des néologismes que naissent les plus belles des déclarations
Attrapez au vol ces interrogations qui me hantent
Incurvez les lettres , les lettrines
Prononcez pour moi ce “H” muet
Il a tant de choses à dire depuis le temps…
Mais n’insultez pas mes silences
Les résonances sont migraineuses
L’écho tape contre mes tempes lorsque les mots bouillonnent
Alors je pense aux papillons
A l’esquisse d’une colombe
Aux craquelures des écorces
A la langue des vents
Je bois un thé aux arômes d’un ailleurs qui m’échappe
Dans la fumée galopante je vois des encyclies qui se dandinent et je souris
N’insultez pas mes silences
Laissez-moi me réfugier dans mes pérégrinations
Rêver aux couleurs du Monde
A cette cabane au bord de l’océan
Cessez d’agiter cette réalité qui n’est pas mienne
Buvez-la si cela vous chante
Hisser le drapeau des biens pensants
Accrochez vos médailles de droiture
Cirez bien vos chaussures
Mais n’insultez pas mes silences
Ou je hurle

Myriam Soufy
Tradução: Albertina Pinto Ribeiro