Artes / Poemas · Junho 15, 2023

Como foi, de Leonor Hipólito

Foi de mãos dadas que notaram haver vida para além dos seus lábios.
Não era carícias, elogios, nem mesmo promessas que elas entrelaçavam.
Era o que ainda não sabiam exprimir.

Assim foram, calados, pelas ruas escurecidas pelo mistério – progénito da
noite e próximo dos que desejam sentir-se.

Foram.
Foi-se,
foi.

Longe ficaram, deixaram de se ver.

O que fazer com as mãos, agora achando-se olhos, atentas mais do que
nunca àquele momento que jamais olhar algum conseguirá tocar?

Não se consegue esquecer o que nos toca. O que nos mostra como foi que
aqui chegámos.

Como foi?

Leonor Hipólito