Notícias · Junho 14, 2021

Poesia. Jaime Rocha

Livro de poemas de Jaime Rocha apresentado na praia da Nazaré

“Poemas da mulher e do náufrago” é o título de um livro do poeta nazareno Jaime Rocha que foi apresentado no dia 3 de Outubro de 2020 no areal da praia da Nazaré. Tem 76 páginas e é uma edição conjunta de volta d’ mar e Biblioteca da Nazaré. Tem ilustração de Marta Nunes,

Na realidade, este livro reúne dois livros já publicados: “Mulher Inclinada com Cântaro” e “Mulher e um Cão que Dança”, e foi uma forma de os editores assinalarem os 50 anos de vida literária de Jaime Rocha.

O poeta nasceu em 1949, na Nazaré, tendo frequentado a Faculdade de Letras de Lisboa, e viveu em França nos últimos anos da ditadura. Publicou o seu primeiro livro, “Melânquico”, em 1970. Tem editadas várias obras no domínio da poesia, da ficção e do teatro.

Na introdução do presente livro escreve-se: «Este livro é cúmplice. Une, reúne e senta-se frente ao mar para que dali haja um novo encontro. Tal como os lugares que são marcas para quem se alimenta de livros e não poderá nunca ter apenas um único mundo. São sucessivas passagens num paredão que escuta, ventos que sacodem as almas, areias que cegam, vagas que invadem e limpam as ruas. (…) Este livro é como uma reunião à revessa da Capitania, um lugar de abrigo contra as nortadas nas ferozes invernias.»

Jaime Rocha insere a abrir o “2.º” livro uma epígrafe de Maria Gabriela Llansol e deixa, nesse gesto, compreender por que, ao longo dos seus poemas, aparecem linhas rectas, um estilo característico de Llansol, que a escritora terá bebido em Espinosa e que explica assim: «Spinoza brinca com as réguas____ e conduz os meandros da linguagem sobre linhas rectas, encurtando-nos o caminho____ e distanciando-nos o olhar.» Um exemplo de Rocha: «Não há tréguas no ventre daquele mar./ No espelho das grandes vagas existe/ sempre uma sombra, um risco/ que corta a água______.» Ou ainda: «A mulher percebe então que a praia é/ o seu próprio túmulo______ (…).» O conjunto de poemas agora publicado é, em boa verdade, um único longo poema que transpira a obsessão pelo mar e expectativa da incontornável tragédia que ele despeja na praia. Os seguintes três versos traduzem isso muito bem: «É a fala das ondas, a sua pele, o enleio/ com a impossibilidade de deter o movimento/ da água, a morte guardada para os amorosos.» – C.F.