Poemas · Janeiro 20, 2022

2011/10/14, de Zé Onofre

Eras ave livre,
Voavas docemente
De flor em flor
A todas levavas
Ternura e claridade.

Às vezes pousavas
Num ramo,
Num galho de uma árvore,
Observando
Através da folhagem.

De repente,
Inquieta,
Levantavas voo,
Ferozmente,
Ignorando os perigos,
Contra vendavais injustos.

Outras vezes
Deixavas o pouso
Cheia de ternura,
Delicada, doce.
Apanhavas a aragem
E descias
Sobre as flores maltratadas,
Pelo vento injusto
– Que muitas vezes,
Só uma já era demais,
Destruía tudo

Que se lhe atravessasse no caminho –
E, já exausta,
Encontravas palavras
De conforto e ânimo
Que lhes davam uma nova vida.

Uma brisa traiçoeira
Levou-te para parte incerta,
Muito para além
Do horizonte verde,
Onde
O tudo e o nada
Coexistem e são um só.

Zé Onofre