Poemas · Junho 24, 2021

Penso(-te), de André Fonseca

Eu já não penso. Jamais.
Eu agora penso-te. Somente.
Eu apenas te penso. Intensamente.
E quando evito pensar,é quando te penso mais.

Eu penso-te sem querer.
Eu penso-te a todo o momento.
Penso-te a dormir, penso-te a trabalhar, eu penso-te a comer…
Eu penso-te a pensar de onde vem o pensamento.
Eu penso-te a pensar de que matéria é feito o Universo.
E olha… Não fui capaz de evitar:
Pensei-te agora mesmo a escrever este verso.
E quando penso nisso, descompenso.
Eu penso-te tanto que isso me faz pensar:
Não é isto tudo um contrassenso?

Eu já não penso, eu apenas te penso.
Terei já nascido propenso?
Ou apenas desprovido de bom senso?
Já não sei se sou eu que vivo,
Tenho o pensamento irremediavelmente cativo
Será este o preço a pagar pelo amor?
Deixei de ser um pensador,
Passei a ser só pensativo.
Pensar-te é uma espécie de doença.
Eu penso-te, ansiando a ausência de pensar.
Eu penso-te, ansiando a tua presença.

Penso-te por sinapses que ameaçam entrar em falência
E evocam memórias que são meros pensos rápidos pressionados
com violência.
Contra uma ferida a gangrenar.
Pensos que penso serem incapazes de se escudar
Dos pensamentos que me atinguem desgovernados
Como o pensar estar a pensar-te com os nossos corpos colados

Eu já não penso, eu penso-te, penso eu…
E mensmo que não queira pensar nisto
Tu controlas as rédeas deste pensamento que já não é meu
E se eu penso, logo és isto…

André Fonseca