parei à porta do outono,
os passos afiados de impaciência;
vinha de dentro um sabor a silêncio,
arremedos de crepúsculo sem respostas urgentes,
o som da marcha vagarosa dos pássaros
aliviei os alforges
do peso da pressa e da ansiedade,
vi desfilar o sorriso sereno dos invernos,
o sossego apressado dos estios,
a alegria contida e efémera das primaveras
ajustei a passada hesitante
à leve lentidão do cair das folhas
e espreitei por uma fresta acesa
o entardecer despido de melancolia
foi aí que vi desnudo o outono,
tal como o desejo:
a menos nostálgica de todas as estações