Autores / Poesia · Setembro 24, 2021

Agostinho Jacinto

Foto: Lara Jacinto

Antes de ter nascido já existia e escolheu nascer na última folha de 1951, em Leiria. Em algum lado haveria de começar. E pegou no fio que o trouxe até aqui. Muitos foram os nós lhe escorreram pelas palmas, desde o fantasiar borbulhante da escuta, ao contorno de cada som na escola e à descoberta do sentido e da razão das coisas no liceu. O garimpo do sustento encurtou-lhe a adolescência e, logo de seguida, camuflou o medo na aventura do “pós caravelas”. A Revolução retornou-lhe o chão, onde amou e plantou a vida: deu filhos ao mundo e árvores donde respira e colhe folhas, em branco, para pensar em poesia; vai-as guardando em herbário e dependurando em cabides de palavras, animados, por aí, à velocidade da luz – como o Mundo é Grande! – sem nada esperar senão o gozo de existir. Pode assumir outros alter-egos, mas se ouve no ar – Agostinho Jacinto – responde, “sou eu”. Antes de ter nascido já existia para morrer, mas isso pouco importa se a eternidade nasce aí…