Traduções · Junho 12, 2021

O pomar branco, de Arthur Sze

Sob uma superlua, contemplas o pomar –
um soprador de vidro transforma uma massa laranja brilhante num cavalo –
entras num espaço onde um dia já viveste –
mica esmagada brilha nas paredes de gesso –
um guaxinim desliza ao luar por cima de uma parede de adobe –
ao nadar numa lagoa, apercebemo-nos de um choupo refletido na água –
um som: um veado salta por cima do portão –
a cada quinze minutos um elefante é baleado para obtenção dos seus dentes –
reparas numa lagartixa esbranquiçada na brancura de neve desta página branca –
há cascas de beringela brilhando num jardim –
os nossos corpos brilhando à luz da chama –
embora as doninhas tenham um dia destruído as searas, os nossos momentos de fulgor não podem ser destruídos –
quando dormes perto de um canal, ouves o suave marulhar das ondas –
ao amanhecer, com o marulhar das ondas, ouvem-se homens a descarregar vieiras e camarões –
nenhuma detonação de tiros –
a tua atenção está toda nos ramos de macieiras centenárias –
ao abrir a porta, encontramos pétalas de rosa, vermelhas e amarelas, espalhadas na nossa cama –
então anos-luz –
distingues ao longe, no pomar, ramos de pereira, enquanto a lua nasce –
ramos dobrando sob a neve desta página branca –

The White Orchard

Under a supermoon, you gaze into the orchard—
a glass blower shapes a glowing orange mass into a horse—
you step into a space where you once lived—
crushed mica glitters on plastered walls—
a raccoon strolls in moonlight along the top of an adobe wall—
swimming in a pond, we notice a reflected cottonwood on the water—
clang: a deer leaps over the gate—
every fifteen minutes an elephant is shot for its tusks—
you mark a bleached earless lizard against the snowfall of this white page—
the skins of eggplants glistening in a garden—
our bodies glistening by firelight—
though skunks once ravaged corn, our bright moments cannot be ravaged—
sleeping near a canal, you hear lapping waves—
at dawn, waves lapping and the noise of men unloading scallops and shrimp—
no noise of gunshots—
you focus on the branches of hundred-year-old apple trees—
opening the door, we find red and yellow rose petals scattered on our bed—
then light years—
you see pear branches farther in the orchard as the moon rises—
branches bending under the snow of this white page—

Arthur Sze
Tradução: Maria Celeste Alves