Poemas · Janeiro 17, 2022

Nestes dispersos, de Jorge Vaz Dias

Nestes dispersos
Que são os meus pensamentos,
Os lamentos
E os felizes acessos
De lucidez que também perco.
Sabe o mundo mais do que eu
Sei eu mais que muitos
Não sei nada… lamento!
E sei de mim (quando me encontro).
Agora é a carne,
O corpo que deixaram…
Que deixaram de ser voluptuosos.
É o poema do ser humano
Que me excita.
A fantasia como um para-deus
Os amores meus que são todos
Nas suas vidas felizes.
Eu serei um sopro
E nem eu me lembrarei após
A morte de tudo.
Talvez saberei que viver
Foi a parte melhor
Disso tudo e que parti
Sozinho como cheguei.
Tive uma mãe.
Tive amor.
Tive uma filha.
Dei amor.
Aquele que sabia ter
E sentia ser um todo.
Quantas vezes podem
Os gatos padecer
Antes de darem o salto?

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Exasperado fica o homem, o poeta eternizou-se. Tornou-se um
todo de traços, esquissos, concisos, um pouco distos e daquilos
que viajam e compactam troços e trocos de o que os tempos
troçam. Somos poucos. Tão poucos loucos poetas roucos.

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Deixa lábios serem
Os fins de tarde de verão.
Deslizam sem tempo
Para a foz dos destemperados
Desejos. Arde
E esbate-se a pele salitra
Que ainda é água doce.
Doce que desliza
Na impressão digital
De cada dedo
De cada mão
De cada braço
Onde fiquei com
A impressão
De te ter sido fins
De tarde de verão.
Deveríamos fazer calor
De crepúsculo
Por agora.
Enrola a pele
Labial na pele alheia.
A meias e ateias chama.
Limiar
Que nos beija.
Leito de cama.
Amaremos como
Quem desce dos céus.
De rio a mar.
Desaguar.
Chama-me

 

Jorge Vaz Dias