Enquanto Elon Musk aposta na colonização de Marte, Jeff Bezos propõe transferir a indústria poluente para o espaço para preservar a habitabilidade da Terra
A solução para a crise climática está além da atmosfera terrestre? Para Jeff Bezos, fundador da Amazon e da empresa aeroespacial Blue Origin, a resposta é clara: sim, mas não em Marte. Ao contrário de Elon Musk, que há anos promove a colonização do planeta vermelho como um «plano B» para a humanidade, Bezos defende uma visão alternativa. Segundo ele, o melhor será levar a indústria poluente para o espaço e deixar a Terra como um local de residência e natureza protegida.Leia tambémPeter Thiel arruína o sonho de Elon Musk: «Chegar a Marte era um projeto político e deixar de acreditar nisso levou anos»
A sua abordagem não é nova, mas ganhou força na última década com o auge do setor espacial privado. Em julho de 2021, logo após o seu primeiro voo suborbital a bordo da nave New Shepard, Bezos declarou numa entrevista à CBS News: «Podemos transferir toda a indústria pesada e poluente para o espaço. E operar lá.»
Desde então, ele reiterou várias vezes que o planeta é frágil demais para continuar a ser explorado no ritmo atual e que as soluções de longo prazo passam pela construção de infraestruturas industriais fora da Terra.
Jeff Bezos, fundador da Amazon, contra a ideia de Elon Musk de terraformar Marte.
No futuro, dentro de séculos, todo o trabalho pesado será realizado no espaço. A Terra será dividida em zonas para uso residencial e indústria leve.
Jeff Bezos, fundador da Amazon
Assim, enquanto Musk e a SpaceX apostam na colonização de Marte como forma de garantir a sobrevivência da espécie humana, Bezos insiste que a prioridade não deve ser abandonar a Terra, mas protegê-la. Já em 2019, durante uma conferência de imprensa da Blue Origin, ele apresentou sua visão com mais detalhes: “No futuro, dentro de séculos, todo o trabalho pesado será realizado no espaço. A Terra será dividida em zonas para uso residencial e indústria leve.”
Assim, em vez de terraformar Marte — um processo que exigiria séculos e tecnologias ainda inexistentes —, Bezos propõe construir habitats espaciais autossuficientes inspirados nos cilindros de O’Neill, grandes estruturas rotativas que simularia a gravidade e permitiria abrigar vida humana. Segundo ele, essas colónias espaciais seriam mais realistas do que modificar um planeta inteiro.
De qualquer forma, o projeto que Bezos imagina não é para amanhã nem depois de amanhã. Ele próprio reconheceu que se trata de um plano intergeracional que pode levar «décadas ou mesmo séculos» para ser concluído. Mas, para isso, a sua empresa Blue Origin está a trabalhar em tecnologias que permitam reduzir drasticamente os custos de lançamento espacial e construir a infraestrutura logística necessária.
O objetivo é estabelecer as bases para uma «economia espacial», na qual múltiplos atores privados e públicos possam operar fábricas, coletar recursos e gerar energia no espaço, especialmente por meio de painéis solares orbitais e mineração de asteróides.