Sob o terreno onde será construído o novo estádio desportivo de Wolmirstedt, no estado central alemão da Saxónia-Anhalt, uma equipa de arqueólogos desenterrou vestígios de um extenso assentamento da Idade do Bronze Tardia, confirmando que esta zona estrategicamente localizada junto ao rio Ohre e perto da sua antiga confluência com o Elba já era um local importante há mais de 3.000 anos.

As escavações, dirigidas pelo Departamento Estadual de Gestão do Património e Arqueologia da Saxónia-Anhalt (LDA), em estreita coordenação com a câmara municipal local, revelaram estruturas habitacionais e fornos, juntamente com um achado invulgar: a carapaça de uma tartaruga europeia de lagoa num poço que poderia ter servido como forno, levantando a possibilidade de o animal ter sido consumido como alimento.

Desde o início de junho deste ano, os arqueólogos examinaram uma área de aproximadamente 21.000 metros quadrados nos arredores ocidentais de Wolmirstedt, trabalhando em paralelo com os preparativos para o nivelamento do terreno destinado ao complexo desportivo. Até ao momento, nos 5.000 metros quadrados já explorados, foram documentadas 322 estruturas arqueológicas e recuperados mais de mil objetos, a maioria fragmentos cerâmicos, mas também anéis de bronze, punções de osso e restos ósseos de animais como vacas, porcos e ovelhas ou cabras, evidência clara de uma ocupação humana prolongada.

A localização do sítio não é casual. Durante a Idade do Bronze Tardia (entre 1300 e 750 a.C.), esta região próxima ao curso inferior do Ohre foi um ponto de encontro entre dois grandes grupos culturais: o Círculo Nórdico da Idade do Bronze e a cultura lusática, cujas influências se misturaram em grupos locais como o chamado Elbe-Havel-Gruppe (Grupo Elba-Havel) e o Saalemündungsgruppe (Grupo da Foz do Saale). Os vestígios encontrados em Wolmirstedt refletem essa diversidade com cerâmicas de armazenamento de paredes grossas, panelas para cozinhar e tigelas decoradas, típicas do período.

Entre as estruturas descobertas destacam-se vários poços de armazenamento originalmente revestidos com treliça de vime — posteriormente reutilizados como lixeiras — e três fornos cujas paredes reforçadas com argila queimada conservam marcas de troncos arredondados que revelam a sua antiga estrutura. Mas é o terceiro forno que despertou maior interesse: na sua borda, junto a fragmentos de cerâmica, apareceu a carapaça de uma tartaruga de lago, uma descoberta excepcional que as análises laboratoriais tentarão confirmar se se trata de restos de consumo humano.

Habitações, oficinas e um enterro enigmático

As marcas dos postes permitiram reconstruir parcialmente um edifício residencial com pelo menos seis metros de comprimento e quatro de largura, além de estruturas menores, como celeiros e uma oficina têxtil. Esta última, uma construção semi-enterrada de 4 por 3,3 metros, abrigava pesos de tear piramidais que sugerem a produção de tecidos com cerca de 60 centímetros de largura num tear vertical.

Também foi encontrado o esqueleto de um homem adulto de constituição robusta e aproximadamente 1,7 metros de altura, enterrado em posição flexionada e com a cabeça virada para dentro de um poço de lixo. Ao contrário das práticas funerárias habituais da época — a cremação e o depósito das cinzas em urnas fora das aldeias —, este enterro «atípico» não apresenta sinais de violência ou carências nutricionais. Terá sido um ritual? Um enterro secundário? Ou será que reflete diferenças sociais? As perguntas, por enquanto, permanecem em aberto.

By acanto