O tesouro foi entregue ao Museu da Boémia Oriental enquanto os arqueólogos investigam a sua proveniência. No início do ano, dois excursionistas percorriam as montanhas de Podkrkonoší, no noroeste da República Checa, quando se depararam com uma lata de alumínio e uma caixa de ferro escondidas entre a terra e a vegetação.

Ao abri-las, encontraram quase 600 moedas de ouro, 16 tabacarias, 10 braceletes, uma bolsa de malha metálica, um pente, uma corrente e um compacto de pó. Todo o conjunto, feito em ouro, foi depositado no Museu da Boêmia Oriental em Hradec Králové.

«O espanto foi imediato. Fiquei boquiaberto ao ver o achado», declarou Vojtěch Brádle à revista Science. A julgar pelas marcas, muitas das moedas circularam na Sérvia entre as décadas de 1920 e 1930, embora outras tenham datas gravadas entre 1808 e 1915.

A descoberta foi avaliada em cerca de 350 000 dólares (cerca de 320 000 euros), mas o seu significado histórico pode ultrapassar em muito esse valor.

Uma proveniência incerta, mas reveladora

A equipa do museu está atualmente a trabalhar na conservação e catalogação das peças. «O valor é incalculável», afirmou Miroslav Novak, chefe do departamento de arqueologia. A análise das moedas e objetos revelou uma diversidade geográfica que abrange França, Bélgica, Turquia, Roménia e Itália.

Esta mistura de origens aponta para uma história complexa, enquadrada nos grandes movimentos migratórios e políticos que transformaram a Europa na primeira metade do século XX.

«É difícil dizer se se trata do ouro de um checo que teve de abandonar o território ocupado após a invasão nazi de 1938, do ouro de um alemão que temia ser deslocado após 1945 ou de ouro judeu», explicou Petr Grulic, diretor do museu. Segundo os especialistas, não se pode descartar que o tesouro tenha sido enterrado num momento de crise, como a anexação de zonas checas pela Alemanha nazi em 1938.

Um modelo de comportamento cidadão

Após a descoberta, os excursionistas entregaram o conteúdo às autoridades, o que foi destacado como um exemplo de colaboração com o património público. De acordo com a lei checa, os descobridores podem receber até 10% do valor do achado, ou seja, cerca de 30.000 euros cada um.

Este tipo de incentivo visa promover a cooperação cidadã na proteção do património histórico. «O objetivo não é apenas preservar os artefactos, mas também reconstruir a história que os levou até lá», disse Novak.

Exposição e estudo em curso

Os arqueólogos do museu iniciaram um meticuloso processo de conservação e estudo de cada peça, com a intenção de apresentar o tesouro numa exposição pública.

O conjunto de objetos pode ter pertencido a uma família do Império Austro-Húngaro (estado que existiu entre 1867 e 1918) ou a pessoas deslocadas durante os anos de guerra e pós-guerra. “Muitas pessoas escondiam seus objetos de valor debaixo da terra durante as ocupações ou conflitos, na esperança de recuperá-los mais tarde”, lembrou Brádle.

Não é um caso isolado

A descoberta na República Checa se soma a outras descobertas fortuitas que revelaram tesouros históricos. Em 2013, um casal norte-americano encontrou oito latas enferrujadas em uma colina no norte da Califórnia com 1.427 moedas de ouro de 1847 a 1894, avaliadas em mais de 10 milhões de dólares.

E em Jerusalém, a arqueóloga Eilat Mazar descobriu um depósito bizantino com 36 moedas de ouro e um medalhão com símbolos judaicos, datado do ano 614 d.C.

By acanto