As folhas jovens do tomateiro são muito ricas numa enzima com potencial para se tornar a grande alternativa vegetal às proteínas animais. Todo mundo sabe que o tomate é repleto de benefícios para a saúde, mas poucos imaginam que ele pode ser uma grande fonte de proteínas. Esse é o segredo mais bem guardado da tomateira, que esconde em suas folhas uma enzima em concentrações tão altas que poderia se tornar a próxima proteína vegetal do futuro, uma alternativa mais sustentável às proteínas de origem animal.
As folhas do tomate podem concentrar até 27% de proteínas vegetais, mas o desafio está em conseguir um método viável para extrair essas proteínas e transformá-las numa fonte proteica alternativa em grande escala. Assim, poderia ter inúmeras aplicações reais na indústria alimentar e também como possível suplemento.
Este é o objetivo do projeto de doutoramento da investigadora Marietheres Kleuter na Universidade de Wageningen, na Holanda, coordenado pela especialista Luisa Trindade. O potencial refletido nos primeiros ensaios é promissor, mas é necessário melhorar a eficiência da extração do nutriente das folhas para obter uma proteína comercialmente viável.
A proteína mais abundante do mundo
As folhas da tomateira são muito ricas na enzima ribulose-1,5-bifosfato carboxilase/oxigenase, conhecida como RuBisCO ou, simplesmente, rubisco. Diz-se que é a proteína mais abundante do mundo porque está presente em todas as plantas que se submetem à fotossíntese e à síntese molecular. É a enzima central do ciclo de Calvin, a fase escura da fotossíntese, na qual os organismos autotróficos — aqueles que fabricam os seus próprios nutrientes — produzem matéria orgânica.
Em resumo, a rubisco não é apenas a proteína mais abundante na Terra, mas também é fundamental para o desenvolvimento da vida. Todos os organismos vivos dependem dela.
Em média, a rubisco representa entre 20 e 25% da proteína solúvel das folhas vegetais e tem a particularidade de sobreviver por si mesma. Ou seja, é uma enzima que permanece ativa mesmo que a planta tenha morrido, ajudando assim na sua decomposição, porque não é afetada por mudanças de temperatura ou pH.
Um enorme potencial
O potencial das folhas de tomate como alimento do futuro é enorme, mas ainda existem vários obstáculos que os cientistas têm de superar para que seja viável. Atualmente, eles trabalham com métodos alcalinos, mas, para sistematizar um processo industrial, poderiam ser utilizadas técnicas alternativas.
O importante, explica Trindade à Food Navigator, é utilizar as folhas mais jovens da planta, muito mais ricas na enzima, já que a proteína se decompõe à medida que as folhas amadurecem e envelhecem. Mas o verdadeiro desafio está em conseguir extrair o máximo possível de proteína das folhas, já que, até o momento, calculam que podem estar desperdiçando até 90% das proteínas, que ficam na planta.
Para isso, não só se está a trabalhar no desenvolvimento de métodos de extração melhores e mais eficientes, mas também na viabilidade das próprias plantas. «O nosso objetivo», esclarece Trindade, «é compreender os fatores genéticos que constituem barreiras a esta extração, para poder melhorá-los em novas variedades».
No momento em que for possível extrair e aproveitar praticamente toda a enzima de uma determinada variedade de tomateira, ela poderá se tornar uma opção viável. Então, seu potencial para desenvolver produtos, ingredientes e suplementos proteicos como alternativa às proteínas de origem animal e outras vegetais mais caras ou menos acessíveis será realmente revelado.