Uma colaboração entre a Airbus e uma startup de Silicon Valley está a testar uma alternativa ao GPS que parece saída da ficção científica. À medida que a nossa dependência da navegação por satélite aumenta, também aumentam os riscos.
Os voos comerciais e militares enfrentam uma ameaça cada vez mais real e frequente: o «jamming» (interferência) e o «spoofing» (falsificação) do sinal GPS. Esses ataques, que antes eram raros, agora ocorrem regularmente em pontos críticos do globo, afetando milhares de voos e representando um sério risco para a aviação civil.
Perante este cenário, os engenheiros procuram há anos uma alternativa robusta. E parece que a encontraram no lugar mais inesperado: o campo magnético da Terra. A gigante aeroespacial Airbus associou-se à SandboxAQ, uma empresa de Silicon Valley especializada em inteligência artificial e sensores quânticos, para testar um sistema de navegação revolucionário chamado MagNav.
MagNav: o navegador quântico que lê as «pegadas magnéticas» da Terra
A proposta da MagNav é tão elegante quanto radical: esquecer os satélites e, em vez disso, ler as subtis pistas magnéticas da crosta terrestre para determinar a posição de um avião. O sistema utiliza um instrumento compacto equipado com sensores quânticos que medem as “pegadas magnéticas” únicas de cada trecho de terreno sobre o qual o avião voa. Em seguida, uma inteligência artificial a bordo compara esses sinais com mapas magnéticos detalhados para triangular a posição com uma precisão impressionante.
O sistema já foi testado durante mais de 150 horas de voo num avião laboratório da Airbus nos Estados Unidos, e os resultados são espetaculares. As medições de posição não só cumprem, como por vezes ultrapassam os padrões de precisão em voo da Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA). «É o primeiro sistema de navegação absolutamente novo, que sabemos, nos últimos 50 anos», afirma Jack Hidary, CEO da SandboxAQ.
À prova de pirataria: por que é mais seguro que o GPS?
Aqui reside a verdadeira genialidade do sistema. Ao contrário do GPS, que se baseia na recepção de um sinal digital externo que pode ser bloqueado ou falsificado, os sensores magnéticos quânticos são “essencialmente impossíveis de interferir ou falsificar” (unjammable e unspoofable).
Toda a medição ocorre dentro da aeronave, e os dados são obtidos exclusivamente do campo magnético natural e imutável da Terra. Não há nenhum sinal externo que possa ser pirateado. O sistema funciona disparando um fotão a partir de um laser que atinge um eletrão; a assinatura de energia resultante deste processo reflete a força do campo magnético local, uma informação única para cada metro quadrado da superfície terrestre. A IA da MagNav simplesmente interpreta esta assinatura e compara-a com os seus mapas.
Resultados promissores e um futuro além dos aviões
Em testes de voo recentes, o MagNav manteve uma precisão posicional de duas milhas náuticas 100% do tempo e, na maioria dos casos, atingiu uma precisão ainda maior, de 550 metros, superando frequentemente os sistemas inerciais da concorrência que não contavam com a ajuda de satélites.
O potencial desta tecnologia vai muito além dos aviões. Os sensores quânticos poderiam ser usados na defesa nacional para detectar objetos ocultos, como submarinos ou túneis subterrâneos, ou na medicina para melhorar os diagnósticos ao detectar sinais magnéticos fracos do coração ou do cérebro. E não estamos a falar de um futuro distante. Como conclui Joe Depa, Diretor Global de Inovação da Ernst & Young, «não estamos a falar de algo daqui a 20 anos. Isto é aqui e agora».